Flora era tão doce que Ilyan começava a se preocupar se não estava preso em algum de seus livros, um em que ele torcia ser o protagonista que ficava com a moça no final. A forma como ela o elogiava o fazia corar e em determinado momento, tantas foram as vezes que ficara ruborizado, que no momento que seu rosto voltasse a cor natural, sentiria-se completamente estranho.

Compartilhavam da mesma empolgação quanto a ideia de lerem juntos, mas ao contrário de sai, ela não se contivera, mostrando para o semideus o quão feliz ficara com a sugestão. Tinha que confessar que sentia um pouco de medo quanto a parte de cozinharem, nunca fora um exímio cozinheiro, nem mesmo fritara um ovo sem destruí-lo. Porém confiava que Flora daria conta de ensiná-lo.
Ilyan jamais conseguiria se preparar para a chuva de elogios que ela fez sobre ele. Seu corpo todo entrava em pane, não sabia mais como fazer qualquer coisa, respirar, falar, se mover, nada mais era de seu conhecimento. E naquele momento Ilyan gostaria de ser um pouco mais corajoso, mais expressivo, dizer a ela tudo que achara dela desde que haviam se encontrado.

Poderia começar com a forma como o tratava, com carinho e respeito, como se parecia com tudo que ele sonhara, que era tão interessante quanto qualquer outra pessoa que já havia conhecido, que embora Elsa já tivesse dito que não poderiam se casar com quem tinham conhecido no mesmo dia, Ilyan ainda assim aceitaria passar o resto de seus dias ao lado de Flora. Queria conhece-la, entender todas as suas peculiaridades que a faziam única e especial e não via maneira melhor de fazer isso do que convivendo frequentemente com ela. Mas não conseguia fazer nada. Nem fora capaz de processar as palavras finais daquela frase, apenas ouvira algo sobre ataques e doses extras de fofura. Ilyan não conseguia entender como aquilo poderia ficar ainda mais fofo, mas certamente entendia como ataques poderiam funcionar contra ele. Flora o atacava com aqueles elogios.

E ele devolvera o ataque com aquele outro elogio que fizera. De certa forma, tinha algo confortável e engraçado em vê-la tão corada e envergonhada quanto ele ficava, ouvi-la se confundir em meios as palavras o fazia sentir algo engraçado no estômago. Seriam as tais borboletas? Tinha quase toda certeza que sim, embora acreditasse que fosse demorar mais tempo para se sentir daquela forma. Quando deu-se por conta já estavam no dormitório de Flora, igualzinho ao dele, exceto pelo tom feminino, a aura divertida e as plantas.

Ouviu-a pedir para que não a abandonasse. Não conseguia entender o que poderia fazê-la pensar que ele faria tal coisa, ou pensar que alguém poderia deixa-la, como seria possível abandonar alguém tão fantástica e perfeita?

— Eu jamais farei isso – respondeu segundos antes de sentir os braços dela se enroscarem ao redor de seu corpo, fazendo Ilyan voltar a sensação de desespero, mas era diferente.

Era gostoso, tão aconchegante quanto sua cama com livros, ainda o fazia corar e se sentir estranho, acelerava seu coração ao ponto de que Flora poderia sentir, mas ainda assim, era uma das melhores coisas que já sentira. Com cautela, Ilyan colocava as mãos ao redor dela, deixando o livro sobre a mesa e com certo receio de machuca-la se apertasse com toda a vontade que tinha. Se fosse possível jamais a soltaria.

As palavras que se seguiram fizeram todo o corpinho de Ilyan se contorcer, por ouvi-la usar-se dos meus elogios que ele tão significativamente dissera sobre ela, mas agora era sobre si e por ouvir todas as desculpas sobre porque não tinha conhecimento naquela área. Nem ele tinha, tanto que não via nada de errado na forma como se trataram desde o início – embora tivesse um tipo de duvida sobre a quantidade de elogios –, gostava e achava interessante como conseguiram chegar naquele ponto. Ilyan demorou um pouco para entender o ponto do início daquela fala, mas quando conseguiu finalmente entender em sua mente, algo o fez sorrir. Aquilo fora Flora dizendo que tinha interesse nele romanticamente?

Mas não teve tempo para surtar com aquilo, pelo menos não no primeiro momento. Flora expôs que não só confiava nele, como estava revelando que era da realeza. E Ilyan não ficou surpreso em descobrir que era uma princesa, ela tinha tudo que ele podia esperar que uma tivesse, ficou surpreso com o quanto ela confiava nele, sendo matura para falar sobre a transparência e sobre não querer que o semideus fosse embora da vida dela.

Ilyan não falou nada, apenas deixou que seus braços apertassem ainda mais aquele abraço, passando suas mãos pelas costas nuas de Flora. De início, sentiu-se com medo de estar invadindo o espaço pessoal da menina, mas conforme se sentiu confortável, Ilyan acariciou-a, até chegar nos fios castanhos, passando a mão sobre eles.

— Tá tudo bem – sussurrou tentando tranquilizar tanto ela, quanto ele — Não sabe o quão feliz e assustado estou por confiar em mim e por todos os elogios, não sei reagir a eles – Ilyan deu um riso abafado — Estou tão nervoso quanto você, também não tenho experiência alguma com qualquer coisa, não consigo não ficar bobo com a maneira como você me trata – um tanto triste, mas sentindo a necessidade, Ilyan separou o abraço, ainda mantendo-se perto o suficiente de Flora, levou a mão até a bochecha dela, passando o polegar ali — Você é fantástica e perfeita, tenho muita sorte por ter te encontrado, qualquer um que venha a te conhecer e decida sair da sua vida é ridículo, você é tudo, Florinha – Ilyan retribuiu o apelido carinho com um sorriso de canto a canto. Sua mão foi de apoio com a nuca da outra, agarrando-a com cuidado, enquanto Ilyan se aproximava da bochecha de Flora, depositando um beijo cálido, mas tímido, morrendo de vergonha e de medo que ela o odiasse por aquilo. Especialmente depois que afastou a boca da bochecha dela, aproximando-se um pouquinho mais do rosto de Flora, seus lábios tocaram o canto dos da semideusa, rapidamente.

Ilyan sentia que ia morrer, não conseguia entender como pudera fazer aquilo, seu estômago todo se revirava e gritava, não eram algumas borboletas, mas sim um criação inteira delas. Não sabia o que fazer, aquele era um momento digno de um gay panic, isso se Flora não ficasse furiosa com seu Ilyzinho, mas se por um acaso viesse a reagir bem, Ilyan teria de confessar que nunca beijara alguém antes. Seu coração batia com tanta rapidez que o peito doía e aqueles segundos antes da reação da jovem pareciam uma eternidade.

— Desculpa - soltou em um sussurro completamente falhado, Ilyan sentia que ia se quebrar em vários pedacinhos quando Flora o repreendesse, talvez ele devesse pedir licença e ir embora

— O coraçãozinho do Illyzinho, faz tumtum igual uma musica acelerada. É minha culpa?

Definitivamente era, mas não assumiria aquilo até que Flora entendesse que não era algo ruim, bem pelo contrário, Ilyan se sentia ansioso, com o coração acelerado e um pouco tonto por um motivo muito bobo e feliz. Estava gostando cada vez mais de Flora e da forma tão humana e doce que ela se comportava e demonstrava seus sentimentos, sendo completamente aberta. Ainda assim a respiração de Ilyan pesava mais conforme Flora demorava a reagir ao o que garoto tinha feito. Se culpava absurdamente por ter cruzado aquela linha de forma tão rápida e irresponsável, mas algo ali dentro diria que faria de novo.

Que em outra oportunidade faria de novo, pois Flora era incrível, era fantástica e o deixava completamente sem graça, inebriado por todos aqueles sentimentos completamente confusos mas que não o deixavam sair de perto da semideusa. Ela ficara perdida, corada e parecia ter se perdido naquele momento, Ilyan conseguia observar os olhinhos esverdeados brilhando, mas completamente em choque. Ele causara aquilo e jamais poderia se perdoar se Flora não tivesse retribuído aquele beijo no canto dos lábios dele.

Fora a vez de Ilyan entrar em pânico, completo. Sentiu todo seu corpo parar, seus olhos se fecharam automaticamente, tentando dedicar toda a atenção para o toque dos lábios macios de Flora sobre aquela dobra no rosto de Ilyan. Era inevitável não sorrir em meio a tudo, não dava mais a mínima preocupação para as maçãs coradas, o coração acelerado e o fato de que tudo estava indo bem mais rápido que ele pretendera.

Até que o questionamento na sua cabeça o fez começar a entrar em pânico. Deveria realmente beijá-la? Se sim, como faria? Como aquilo funcionava? E se você terrível? Se Flora achasse a pior coisa do mundo e expulsasse Ilyan dali no segundo que aquilo acabasse? Ou ainda pior:

E se Flora não quisesse e Ilyan estivesse dando um passo muito grande?

Talvez pela confusão de coisas em sua mente, a junção dos últimos minutos que haviam ido de 0 a 100 rapidamente somados aos comentários que Flora fizera e Ilyan só se dera por conta quando ela se afastou. A palavra que o levara a total loucura fora “namorados”. Tudo bem que não pareciam estar seguindo muitos passos, mas Elsa jamais deixaria Anna namorar um cara que encontrara na mesma noite. E Ilyan se sentia um pouco receoso, afinal, mal conhecia ela.

Mas queria muito conhecer Flora, passar seu tempo livre do lado da garota, aprendendo sobre a mesma e seu mundo completamente diferente que o encantava. Só que queria tudo isso com calma sem pressa, eram muito jovens para coisas definitivas. Porém, lembrou-se do detalhe de que Flora era uma princesa e aí sim, pânico total.

Flora talvez não pudesse namorar, casar, beijar plebeus, ou de repente podia, mas teria de ficar com aquela pessoa pelo resto da vida. Ilyan levou as mãos aos cachos, olhando ao redor, talvez fosse uma boa dar uns passos para trás e sair correndo. Precisa pensar direitinho em tudo aquilo.

Só que seria um idiota, ridículo se a deixasse ali após tudo aquilo, após prometer que não a deixaria. Foi só quando deu um passo para trás que viu uma sombra, Ilyan inclinou o corpo para o lado, desviando o olhar de Flora. Uma risadinha preencheu o espaço e algo vermelho saiu correndo.

—Era o Berry? – Perguntou esperançoso pela distração e ao mesmo tempo feliz em conhecer o morango, Ilyan sorriu, como se não tivesse entrado em pânico silenciosamente há segundos atrás. Caminhou na direção da cama e se ajoelhou, procurando pelo morango.

Embora estivesse a procura de Berry, Ilyan ouvia atentamente as palavras de Flora, um pouco sem jeito por tê-la deixado daquela forma. Especialmente depois de ouvir que o padrasto a escondia do mundo por seus dons, o que deixava o jovem indignado, não entendia porque alguém queria esconder uma pessoa tão especial. Mas não era íntimo o suficiente, nem poderia se deixar levar a entrar num assunto tão delicado, não sabia seus limites com Flora e certamente não queria extrapola-los. Virou-se ainda no chão observando-a continuar a contar sobre a mãe, enquanto se justificava pelo “namorados”.

Tinha que admitir que ver Flora corada o fazia sorrir sem graça, corando junto dela enquanto sentia todas as borboletas do mundo se alojando em seu estomago. Era uma ótima, mas péssima, sensação, que não o ajudavam em nada, apenas o deixavam mais ansioso e nervoso. Ainda assim, sorriu de canto e tentou tranquiliza-la.

— Não tem o que agradecer – piscou pra ela, com o mesmo lado que sorria — Sua mãe estava certa, mas acho que podemos ir com um pouquinho mais de calma, tudo bem? Também quero te conhecer.

Falou um tanto bobo, tentando não soar tão ríspido, mas o mais compreensivo possível e reafirmando que queria o mesmo que ela, só que um pouco menos apressado. Flora foi atrás de Berry, que se escondera atrás de uma cômoda, talvez tão envergonhado quanto Ilyan, ou apenas querendo brincar. Ele não entendia nada sobre morangos, mas Berry parecia tão animado em conhecer Ilyan, quanto o mesmo estava em conhece-lo. O morango se balançava e sorria de uma forma que o jovem nunca conseguira imaginar antes, era um nível de empolgação além do que achava ser possível.

Ilyan colocou-se de pé, ficando na altura de Flora, Berry falava algo, mas infelizmente Masha não era deusa dos morangos, por tanto, Ilyan entendia um grande abismo de nadas, mas estava achando fofo e adorável igual. Retribuiu a animação do morango com um sorriso de canto a canto, o olhando deveras curioso com aquele ser, nunca vira nada como, nem sequer pensara que existia.

— Oi Berry, eu sou o Ilyan, amigo da Flora – o semideus esticou o braço, se aproximando da bochecha do morango para fazer um carinho, mas parou antes de tocá-lo — Posso? – a pergunta era tanto pelo consentimento, mas também pelo receio de que algo na forma de Berry não fosse agarravel e aí terminaria por machucar o melhor amigo de Flora.