O fulgor refletido no olhar tétrico da semideusa acompanhava as manchas umbrosas no retrato copioso de sua própria imagem disforme na água cristalina da piscina. Enquanto alguns vindouros de outras entidades evitavam o contato álgido e perfurante com o elemento líquido, a prole de Néftis permanecia parada na borda, dentro d’água. A melhora no sistema circulatório e imunológico eram quase um tradicional roteiro em seu dia-a-dia desde os quinze anos, marco onde toda a sua história relativa ao sangue misto se iniciou. Para suportar tudo, precisava expor o próprio corpo a experiências inimagináveis. A imersão ao banho frio foi a primeira com a qual se acostumou.

A temperatura da água na piscina não chegava a limitar qualquer movimentação, não estava tão frio para quem já possuía costume e bastava alguém se queixar para a mágica acontecer. A temperatura, automaticamente, se adaptava. Não demorou muito para acontecer tal fato. Cho Yeong mergulhou, molhando as longas madeixas, não importando a decorrência posterior à saída da piscina; A de ir embora com o cabelo encharcado. Seu próprio corpo era quente o suficiente para ocasionar uma secagem rápida.

Ainda desconhecia a grande massa de faces e vozes. Não conseguia se acostumar facilmente a um ambiente tumultuoso, repleto de métricas, outras pessoas e perigos constatados em premissas abrangentes. O Instituto era o lugar mais seguro do mundo para todos os semideuses, mas estar lá dentro - às vezes - lhe sufocava. Por este motivo, buscava ocupar a mente com atividades esportivas e individuais. Não perdia o fio da meada, lógico e coeso, de que estava cometendo um pecado capital.

Até quando se veria tão isolada?

A profusão de adolescentes, crianças e adultos provocou na egípcia o questionamento de que talvez a hora de retirar-se do recinto se pontuava mediante a constatação da cacofonia imprecisa. O barulho de diálogos paralelos e berrantes lhe incomodava um pouco, causando uma breve confusão mental. Odiava anarquias e algazarras, sentia-se ausente na órbita em que se encontrava. Era uma premissa para disparar um gatilho para as crises de pânico, as quais tanto temia.

Um grupo de crianças pulou na água, despertando-a para a vida pungente. As braçadas infantis eram curtíssimas e afobadas, erguendo pingos e gotejos potentes, além das ondulações na água clorosa. Aqiuele não era o único ato consequente da chegada dos pequenos. Cho Yeong usou os braços para impulsionar o restante do corpo para fora da borda, retirando-se da piscina, encontrando um semideus próximo de onde havia deixado a própria toalha amarelo-mostarda. Era uma figura completamente estranha, nunca visto antes. Duvidava de que fosse algo diferente para ele também.

Estava toda molhada, graças ao pulo em grupo das crianças. Revirando os olhos enquanto umedecia o lábio inferior em um gesto nervoso, a semideusa parou quando ocupou a ponta de sua espreguiçadeira. Repreendeu o pequeno resmungo vocal ameaçando escapar, negando brevemente com a cabeça, concentrada na própria respiração para não terminar queimando o tecido enquanto reunia uma parcela de energia para começar a esquentá-lo com as próprias mãos.