O sol nascia no canto daquele extenso jardim, mais uma longa noite que tive de passar sentada olhando para as estrelas. Aquele lugar ainda me era estranho, desconfortável e me causava arrepios de andar nos corredores antigos, como se algo estivesse me perseguindo por dentro daquelas paredes grossas. De fato, eu havia maratonado Harry Potter cinco fim de semanas seguidos – culpa da incrível variedade de entretenimento desse lugar –, e a Câmara Secreta era o meu filme favorito, mas não vejo como isso poderia afetar minha percepção daquela muralha.
Bati as mãos, uma na outra, limpando a poeira da areia que acumulara nelas, desci da mureta das hortênsias, a rinite em breve atacaria. Em um mundo cheio de seres mágicos, como ninguém havia se dado ao trabalho de curar essa desgraça?! Até poderia tentar, mas honestamente, a sabedoria que meu pai divino – de divino não tinha muita coisa né, pra nada serviu – concedeu é quase nada, as vezes só queria que mamãe tivesse engravidado de outro deus.
As plantas daquele jardim precisavam de um pouquinho de água, mas eu que não iria sujar ainda mais minhas mãos, levei semanas para conseguir uma manicure que atendesse semideuses e não tentasse me atacar com o alicate. Não é nada ser fácil ser eu.
Dobrei a coberta que trouxera comigo, cheia de terra, provavelmente deitei sobre algumas flores, nada que algum semideus divino das plantas não pudesse resolver. Coloquei os tênis devagar, difícil que chegasse alguém aquela hora para ver as verdinhas – que poderiam ser folhas de maconha, ou dólares, mas infelizmente eram as flores mais entediantes que eu já havia visto com meus incríveis olhos azuis –, contudo, se alguém de fato me encontrasse ali saberia que eu destruí algumas coisas e eu perderia meu local de meditação e sono.
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